Para  Nayara Priscila Xavier

Falar ao pé do ouvido é ecoar a minha voz por dentro do outro. É se estagnar, como se fôssemos uma pedra no meio do caminho, porém sempre é bom ter uma pedra no meio do caminho para ultrapassarmos, para sabermos do que somos capazes. Entretanto caí, machuquei meu joelho e não posso mais andar por enquanto, culpa da maldita pedra do meio do caminho, se não a houvesse passaria, livremente andaria agora sem ter esse corte profundo, por ver essa vermelhidão saindo, por saber que ainda estou vivo. Triste fim! Eu ainda estou vivo, pois já me conformava em seguir, pois já me conformava só em andar, mas tive que tropeçar na maldita pedra no meio do caminho e me rasgar e pensar e chorar e doer e tentar curar e arder e saber que ainda estou vivo. Pouco me importava se estava vivo, se estava morto, já não fazia a diferença, já estava conformado, mas veio essa bendita pedra e me tirou do conforto. Maldita seja essa pedra. Então, Maria Lúcia me ajudou a levantar, pegou em minha mão, segurou minhas costas, criou forças e me disse, "Vamos, já chega de estar no chão.", segurei sua mão, apoiei-me em suas costas e num piscar de olhos nos levantarmos, mais firmes do que nunca, e não haveria uma única pedra que nos derrubasse, pois éramos ela e eu, dois corpos apoiados um sobre o outro, um que sangrava pela perna, o outro que sangrava pelo coração ou vocês acham que fui o único em todo esse tempo a tropeçar na pedra? No mínimo, o meu corte e a minha dor foi a menor do que já se teve notícias, enquanto outros tropeçaram sentimentos nessa maldita pedra no meio do caminho e se rasgaram e pensaram e choraram e doeu e tentaram curar e ardeu e queriam saber se estavam mortos, pois a pequena pedra retirou-lhes os sentimentos, asas de borboletas que se lançaram em voo depois que cairmos, e caímos demais amigo. Então, cheguei perto do ouvido de Maria Lúcia, achei o brinco bonito, uma pequena borboleta de ouro, mas não era isso que queria pensar e dizer, então cheguei mais perto - tava querendo dizer algo para você faz um tempo. Aproxima-se de minha boa, encosta seu ouvido junto aqui. Delicadeza é o oferecer o seu melhor sempre. Talvez nunca se esqueça, mas é bem provável que sim, que o que te falei ao pé do ouvido irá ecoar dentro de teu corpo, assim como um alô... alô... alô... alô... infinito dentro de uma caverna. Maria, que não tenhamos medo de ficarmos de pé, nunca, pois ficar cabisbaixo não será a solução pra nada, além de murchar as asas das borboletas que existem dentro de nós.

Gustavo N. de Lemos